O que levamos desta vida não são coisas. Não é palpável. O que levamos desta vida é incrível. São experiências. São vivências. São histórias. São memórias. O que levamos nos nossos corações são puras recordações. São eternas emoções.
É por estas e por outras que gostamos tanto de viajar em família. Mais do que uma viagem, é uma vida dentro da nossa vida. Como se fossemos teletransportados, dentro de uma bolha, para outra Via Láctea, onde andamos lá, à deriva, livres e leves. E tão felizes. Longe de tudo. Longe dos problemas. Dos desencontros. Dos dilemas. Como se neste mundo tudo continuasse na mesma e lá, onde estamos, houvesse uma vida paralela.
Foi assim que nos sentimos nesta que foi, até hoje, a grande viagem da nossa vida a cinco. Sei que estão todos ansiosos pelo roteiro completo, mas hoje vou apenas falar um bocadinho acerca de tudo aquilo que sentimos. Porque, acreditem, não é para todos. Apenas os mais aventureiros, os que não têm medo de arriscar, os que não gostam de rotina, os que anseiam por um pouco de paz, sem medo de falhar.
Porque, acreditem, a cabeça descansa (e muito!), mas o corpo cansa. Não há cá vida de hotel nem de refeições incluídas. Temos de fazer tudo. Tudo! E por isso é que gostamos tanto desta vida de autocaravana. Porque é um trabalho de equipa. Somos todos marinheiros do mesmo barco. Se um desanima, os outros vão atrás. Se um se zanga, os outros vão atrás. Mas se um se faz à vida, os outros também vão atrás. Já partilhei no IG toda a verdade acerca de viajar em autocaravana, mas aqui vai de novo, para os que perderam todas as dicas:
– Tomamos banho todos os santos dias. Às vezes mais do que uma vez. Temos uma casa-de-banho que parece a casa dos pinypons. Transforma-se de lavatório para um duche maravilhoso de água quente em menos de 30 segundos;
– Comemos legumes e fruta fresca em todas as refeições: temos um frigorífico (e congelador) do tamanho do nosso! Não há cá enlatados nem alimentos processados.
– Os parques de campismo em que ficamos são todos no meio da natureza em estado bruto. Rodeados de verde. De água. De ar puro. Com famílias como a nossa, passando as noites à volta da fogueira, apaixonadas por toda esta envolvente de montanhas imponentes, lagos transparentes, aldeias e vilas incandescentes. Não há confusão nem gente até mais não.
– Dormimos maravilhosamente bem: trouxemos as nossas almofadas e roupa de cama e só ouvimos os passarinhos da manhã e a chuva da noite.
– Os miúdos não só aguentam lindamente as viagens como se portam muito melhor do que num simples carro. Têm espaço para uma mesa onde podem brincar com jogos tradicionais, cartas, desenhos, e muito mais! Mas o melhor de tudo é poderem apreciar as paisagens idílicas e os cenários de sonho!
– Temos toneladas de arrumação. Cabia aqui mais uma pessoa, e ainda sobrava espaço até mais não.
O segredo para que tudo corra sobre rodas é sermos muito organizados, mas ao mesmo tempo ter capacidade de encaixe para não stressar se perdermos o controle. E é nesse jogo de cintura que encontramos o equilíbrio para uma viagem absolutamente perfeita!
Em 13 dias fizemos mais de 4500 kilometros. Metade deles em autocaravana. O Pai foi indo três dias à frente, de carro, levando tudo com ele: malas, roupa de cama, toalhas, tudo o que precisamos para a cozinha, etc. Eu fui de avião até Genéve, com os miúdos. A viagem correu lindamente e assim poupámos três dias de viagem de carro com eles. Já bastou a vinda! O Pai foi-nos buscar e nessa noite dormimos na Floresta Negra – já em plena Alemanha -, num hotel que mais parecia a casa da Heidi. No dia seguinte, antes de irmos buscar a nossa autocaravana, ainda fomos dar um passeio a pé no meio daquele bosque encantado. Digo-vos: nunca pensei que cenários daqueles fossem reais. Estávamos absolutamente extasiados com todo aquele arvoredo no meio do nada. O cheiro a terra molhada, o barulho dos passarinhos, e as cores da natureza fazem milagres e curam qualquer eventual tristeza. Saímos de lá em modo reset, prontos para a nossa aventura que ainda estava a começar.
A sensação de entrar numa autocaravana, sem destino, é indescritível. Um misto de liberdade, com adrenalina, com medo do desconhecido, com pura felicidade. Como se fossemos donos do mundo! Podemos ir para onde quisermos! É de uma emoção só. Impagável e inesquecível.
Começámos pela Baviera. Fomos visitar todas aquelas cidades, vilas e aldeias que mais parecem saídas de um conto do Walt Disney. E não é que lhe serviram mesmo de inspiração? Vimos casas que mais parecem a do pinóquio e da Branca de Neve, e castelos que nos fazem lembrar o da Bela Adormecida. A diferença é que são todos reais. Existem! E estão ali: mesmo à frente do nosso nariz. Sabem que mais? Estávamos a viver o nosso conto de fadas. E isso, já nada nem ninguém nos tira. Uma história de encantar feita e escrita por nós. À nossa maneira.
Das cidades e vilas encantadas, passámos para para os castelos e lagos perdidos no meio das estradas. Se não os tivesse visto e entrado neles, não acreditaria que seriam reais. As cores. A imponência. O silêncio. E uma estranha sensação de impotência. Mas feliz. Sim! Há lagos de água quente e de um verde transparente que apetece lá entrar e nunca mais sair. Há casebres de madeira enfeitados e decorados de bandeirolas e flores, que mais parecem saídos da música do coração. Os nossos passeios a pé eram rodeados desta natureza intocada. E de pessoas que a respeitam profundamente. Que sabem que é frágil como um balão de ar quente. Que adoram esta vida levada devagar. Que inspiram oxigénio do bom, e expiram todos os males, só para sossegar.
[A nossa viagem será dividida em 3 posts, sendo este relativo aos primeiros 4 dias de viagem!]
E que tal um workshop em inícios de setembro com o roteiro completo da viagem. Quem alinha?