Isto de estar sempre a passear tem o que se diga. Muitas de vocês têm-me perguntado como é que nos organizamos para estar sempre no arejo. Mas a verdade é uma: não há nenhum segredo ou poção mágica. Não pensamos muito. Apenas vamos. Não há cá refeições planeadas, nem malas feitas com dias de antecedência. A experiência diz-me que quando se planeia muito, sai tudo furado. Ou o tempo piora, ou um miúdo fica com febre, ou simplesmente não vamos porque não nos apetece. Por isso, dá muito mais gozo tratar de tudo em cima da hora. Acordar num sábado e tomar decisões. Sem pressas, nem pressões.
No fim-de-semana passado acordámos com um sol grandioso. E decidimos ir até à Serra da Estrela. Tinha nevado dias antes e pareceu-nos um óptimo programa para fazer os miúdos felizes. Fizemos as malas e saímos. Sem pensar em refeições, ou se íamos para o meio das multidões aos tropeções. Fomos sem pensar na neve, na verdade. De calças de ganga, sweats e parkas. Nada de gorros, luvas, ou roupa para o frio e neve. Só muita vontade de passear.
Quando lá chegámos, nem queríamos acreditar! Um manto branco de neve virgem. Um sol quente e radioso. Um dia verdadeiramente charmoso. E nós e os miúdos, vestidos à civil. E sem almoçar às 15h00 da tarde. Whatever! Pensei eu. Parámos no primeiro hotel para depenicar qualquer coisa e fomos inundar-nos de bolas de neve. Ficámos gelados até à ponta dos cabelos (mais os miúdos, eu fiquei mais resguardada), mas foram duas horas que nos souberam por 1000. E é isto. Tão e só isto. Um dia sem ser muito planeado, que acabou por ser um dia bem fadado!
Ao fim do dia chegámos a um pequeno pedaço de paraíso. O Chão do Rio recebeu-nos como uns príncipes e fez-nos sentir em casa. Uma casa da Cotovia que nos fez viajar até um livro de encantar. Lareira acesa e um farnel de conto de fadas à nossa espera para o pequeno-almoço do dia seguinte. Um bolo negro. Uma compota de abóbora feita pela D. Emília. Um pão cozido em forno de lenha. Mel e requeijão da Serra da Estrela. Um cesto de fruta de chorar por mais. Refeições e dormida divinais! E depois um jardim de tarar. Baloiços e escorregas de madeira. Uma cozinha de lama. Jogos tradicionais! Uma piscina biológica feita de sapos e rãs com cânticos sensacionais. Os miúdos deliraram com o carrinho de mão de madeira. E com as bicicletas à descrição. Topa-se a léguas: no Chão do Rio, trabalha-se com o coração!